quarta-feira, 21 de maio de 2008

Futuras lembranças III


“... Céus de flores vêm descendo...”
...E então, amor, um dia seremos novamente só nós dois. Não mais as madrugadas enrugadas sob o teto, nem as manhãs coloridas de carnaval... Seremos dois, infinitos, no ponto mais extremo de um cometa.
Das figuras mais distantes sob a mesa, quando éramos dois antigos sonhadores, restarão os símbolos, os afagos e as cumplicidades... Coisas que pouco cabe num álbum de retratos, mas que se encaixam com maestria numa luz néon no palco de doloridas saudades.
Seremos astros de conversas familiares e de sorrisos de filhos e compadres.
Mas, seremos unicamente depois do último anoitecer da estrela dessa vida.
E então, sim, seremos só nós dois. Sentados a uma pedra no alto de uma alameda de tulipas, tal qual Amsterdã, enquanto tudo o mais se contorce em brisa, brisa de rio, brisa que canta os últimos cantos gregorianos sem sonhos nem sons.
Nessa hora, enquanto a noite desce e cai, num céu de cem luas, teremos o mundo aos nossos pés. Enquanto lá, em nossa antiga casa, ainda fumega o café e as lembranças de tudo que foi nosso, narrado em lágrimas aos nossos pequenos herdeiros de sonhos...
- Ah, meus filhos, quando os seus avós eram vivos...

(Jessiely Soares)

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