
Não suporto dias de Sol. 
Nesses dias fico mais vulnerável, mais entregue. Preciso ter um rosto falsamente feliz e estar normal em meio aos normais. 
Manhãs assim eu tenho que ser simpática com a vizinha chata, com o primo metido e com aquela menina que roubou meu namorado quando cursávamos o primeiro ano do ensino médio. Eu sei, faz tempo, mas ainda não gosto dela. 
As pessoas passam e me olham nos olhos, me vêem por dentro! Sinto-me frágil, inconsistente, descoberta. Fico inútil diante das visões alheias sobre a minha incompetência em ser um Ser humano. 
Porém, hoje não.
Hoje está chovendo.
Hoje está chovendo.
Ruas molhadas, trânsito lento e árvores que balançam como se agradecessem as grossas gotas de chuva que caem e desfiguram a paisagem. 
Todos na cidade, levantam de suas camas quentes reclamando. Menos eu. 
Já escolhi a minha roupa mais escura e o guarda chuva preto, sairei absurdamente feliz e ninguém, nenhum daqueles transeuntes me notará. Hoje eles estarão imersos em suas próprias impossibilidades. 
Enquanto eu seguirei,  perdida em minhas paixões inconseqüentes e estarei invisível entre os normais. 
Serei, indescritivelmente, eu. 
(Jessiely)
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