sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Piedade




Que foi feito daquele velho lençol de poeira que guardava sob nosso pensamento? Hoje vasculhei minh'alma inteira e não o pude encontrar.
Você varreu meus desatinos?

Ontem, encerrei meu desejo. Guardei na quina do bar de cerejeira o meu último gole de uísque. Não falarei mais sobre você aos meus desafetos.

Para que? Você deixou a carta do blefe e fugiu com a jogada. Como pôde?

Agora, estou vaga:semi-nua, semi-deusa, semi-pedra-preciosa e, posso contar ao vento que tua voz é oca, que teu canto é triste, que em teu peito jaz uma flecha envenenada.

Mas você não morre.Não tem coração.
E, só por clemência, no dia da partida, não matasse o meu.

- Por piedade, te deixo a alma - me disse.

Quando atravessou a rua, tudo ecureceu, ficou o teu fel no meu peito.Você roubou a minha íris.

Como pôde?



(Jessiely Soares)

domingo, 10 de agosto de 2008

Episódios verídicos de inverdades.



Dia desses, eu sei, bem sei, você pira. Deixa esse uísque falsificado, esse vinho barato, esse gosto pela boemia e por Nelson.
Dia desses, você deixa seu sotaque e pega um sonho na palma da mão, assim, macio.
Eu sei, Baby. Reconheço que você é lindo e que esse seu cabelo enroladinho me tira do sério. Mas, você há de convir, que suas promessas não têm calibre e confessar logo que eu vou ficar só... no meio de uma poesia.
E daí? Castigo! Já roubei poesias de outras musas, lembra?
Alguém, (que terá que ter olhos verdes) ainda sentará na sua cama pra te ouvir, sério, recitar um verso bandido. Depois, vai olhar no teu olho que, sensível, faz pairar uma revolução de fragmentos e melancolias seculares.
Eu não sei como você consegue.
Ela também não saberá...
O fato é que, depois que você deixar esse uísque falsificado, esse vinho barato e esse gosto pela boemia e por Nelson, eu já terei aparecido como moça decidida: Comprado uma vida nova, um novo par de tênis, uns livros científicos e - não, não olhe agora, que estou chorando - sumido na última curva, aquela das tua juras eternamente esquecidas.
Ficarão teu jeito de sorrir e a maciez dos sonhos e, quem sabe, alguma trilha sonora que te assombrará nas noites mais longas e frias da sua jornada.
Como esse meu desespero insone, às 4 da madrugada.
(Jessiely Soares)

domingo, 3 de agosto de 2008

Sangria - ( Maria Júlia )


*

Se me falha o choro
É porque em preces entreguei
Meu amor estranho
Aos luares duplos
Das noites de Abril,

Se me chega o riso
Emparedado por lembranças
De cachoeiras e redes
Que não terminamos de tecer,
Calo-me, febril,

E embalo inconscientemente
Os pecados desprovidos
De perdões que transbordam
- Sangria de lágrimas -
Açudes outrora plácidos,

Sucumbida pela aflição
E a falta de abraço,
Calo-me, e chovo
Pedaços de mim.


(Maria Júlia)


*inspirado numa conversa com Jessy e Beto.