sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Piedade




Que foi feito daquele velho lençol de poeira que guardava sob nosso pensamento? Hoje vasculhei minh'alma inteira e não o pude encontrar.
Você varreu meus desatinos?

Ontem, encerrei meu desejo. Guardei na quina do bar de cerejeira o meu último gole de uísque. Não falarei mais sobre você aos meus desafetos.

Para que? Você deixou a carta do blefe e fugiu com a jogada. Como pôde?

Agora, estou vaga:semi-nua, semi-deusa, semi-pedra-preciosa e, posso contar ao vento que tua voz é oca, que teu canto é triste, que em teu peito jaz uma flecha envenenada.

Mas você não morre.Não tem coração.
E, só por clemência, no dia da partida, não matasse o meu.

- Por piedade, te deixo a alma - me disse.

Quando atravessou a rua, tudo ecureceu, ficou o teu fel no meu peito.Você roubou a minha íris.

Como pôde?



(Jessiely Soares)

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