"Minha vida não cabe nos trilhos de um bonde"
(Caio F.)
(Caio F.)
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É, há noites em que o sereno invade a sala de estar, mesmo com as janelas fechadas.
Não sei o que há, Baby. Minhas asas andam descolorindo.
Não tenho gosto por cigarros, porém, se eu gostasse, poderia criar uma nuvem venenosa e me afogar em um ritual.
Mas eu realmente não fumo. Tenho gosto por tulipas.
Tulipas não vivem onde mora ausência. Minha sala anda recheada de saudades velozes;
Contudo, certamente não sei se a ausência é apenas de você, sabe? Por entre as pedras soltas, eu acabei descobrindo que ando sumida.
Será que foi o vento de Julho?
Dia desses achei um poema, debaixo de uns livros velhos. Perdi o Leminski que estava lendo, mas guardei a poesia.
E desde essa hora em que o achei, pareceu-me que eu sumia. No começo achei que era viagem... Mas agora vejo que me ausentei.
E em lapsos, tempos em tempos, percebo que sua bagagem seguindo ao seu lado, de ida demorada, levou-me um pedaço.
E, a continuar nesse episódio, sua conexão via celular, me arrancou mais alguns estilhaços.
A julgar daí, todos os momentos, foi como se eu estivesse me desmontando, periodicamente, e alcançando seu gesto de alguma forma: Ora pelos remansos dos rios do Recife, ora pelos pingos de chuva.
A vida é mesmo um desmoronamento progressivo. Eu fui ficando metade, fatia, pó...
E no último dia, antes de vir embora, não percebi ( e nem você ) que eu ficava, completamente carcaça, dentro daquele ônibus, interestadual.
(Jessiely Soares)
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