sexta-feira, 11 de abril de 2008

Migração



O dia lá fora era evidentemente claro. Iluminado como as visões que sempre acometiam os seus dias: Esperanças.
Um novo chão a ser desbravado, longe das brenhas cinza do seu Sertão. Fugindo da fome estava agora embrenhado nas terras úmidas e secas do Norte, com todas as certezas voltadas para aquela terra inóspita, sem estrada e sem lei. Havia consigo apenas suas mãos e sua vontade.
Família deixada pra trás no casebre de pau a pique.
Filhos pequenos. O maior, ainda correra chorando e acenando enquanto pedia para que o painho não demorasse e não esquecesse de trazer na volta uma foto do rio. Queria muito saber como era um rio... Com água dentro.
***
Mãos enrugadas e calejadas. Filhos crescidos, carreira promissora: Médicos.
Hoje do sofrimento restam apenas marcas nas mãos e na pele, judiadas pelo Sol, pela enxada e pelos insetos.
Os grandes olhos ainda conservam o brilho de sertanejo, um pouco mais baixos, contudo, agradecidos pela força herdada na terra de seus pais, árida e seca a qual não mais pudera voltar. Ou não quisera.
Agora o vai e vem da velha cadeira de balanço embala o leve cochilo, enquanto o Sol arria no último monte azul avistável. E até lá, todas as terras são suas.
Só uma queixa povoa seus pensamentos: “Porque não ficastes para ver, Maria. Por quê?”
Enquanto a brisa sussurra um sorriso singelo.
(Jessiely)

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