- ... alô...
- Oi... Já viu a lua hoje? Tá linda...
- Hmmm... Tipo, são quase 5 da manhã. Ainda tem lua lá fora?... Você bebeu?
- ...
- Bebeu?
- Não. Li, Dostoiévski.
- hmmm?
- E aprendi toda aquela parada que você falava sobre valer tudo à pena, tudo ser eterno num segundo. E sobre as cores que não morrem quando a noite chega, mesmo quando está chovendo, e sobre as estrelas cadentes e o vinho do porto e os desejos adolescentes e as manhãs de domingo e o incontável, o impagável, o imprevisível e ainda pior, o previsível. E sobre a esperança e o desencontro, a lágrima, o adeus, a saudade, a vida, a infância, a praça que tinha um coreto que você corria dentro e espantava os passarinhos, o deserto, o universo, o mar e o fato de que eu precisava saber beber pra não passar vergonha na volta pra casa e o caso da margarida roubada que eu nunca quis roubar porque ela é uma flor feia e porque roubar é feio – e eu sei, eu sei, que você falou que as flores feias também falam com você – e da decadência espiritual e do passeio noturno pela ponte e sobre Elvis.
Eu o ouvi.
- Tem um barulho de chu...
- Tem.
E eu roubei.
To aqui, no meio da chuva, embaixo da sua janela. E eu roubei a margarida que você queria. Eu ainda a acho feia, mas roubei.
E se você pudesse sair e esperar a lua sair da toca do breu e receber a margarida eu poderia te contar que sonhei com você e que chorei quando Nástienka foi embora, pensei que você poderia ir embora e eu não te perdoaria. E doeu.
- Hmmm
- Você viria?
- Não.
- Não? Mas, mas, a margarida?
- Eu fui embora. Você não me perdoaria.
- Oi... Já viu a lua hoje? Tá linda...
- Hmmm... Tipo, são quase 5 da manhã. Ainda tem lua lá fora?... Você bebeu?
- ...
- Bebeu?
- Não. Li, Dostoiévski.
- hmmm?
- E aprendi toda aquela parada que você falava sobre valer tudo à pena, tudo ser eterno num segundo. E sobre as cores que não morrem quando a noite chega, mesmo quando está chovendo, e sobre as estrelas cadentes e o vinho do porto e os desejos adolescentes e as manhãs de domingo e o incontável, o impagável, o imprevisível e ainda pior, o previsível. E sobre a esperança e o desencontro, a lágrima, o adeus, a saudade, a vida, a infância, a praça que tinha um coreto que você corria dentro e espantava os passarinhos, o deserto, o universo, o mar e o fato de que eu precisava saber beber pra não passar vergonha na volta pra casa e o caso da margarida roubada que eu nunca quis roubar porque ela é uma flor feia e porque roubar é feio – e eu sei, eu sei, que você falou que as flores feias também falam com você – e da decadência espiritual e do passeio noturno pela ponte e sobre Elvis.
Eu o ouvi.
- Tem um barulho de chu...
- Tem.
E eu roubei.
To aqui, no meio da chuva, embaixo da sua janela. E eu roubei a margarida que você queria. Eu ainda a acho feia, mas roubei.
E se você pudesse sair e esperar a lua sair da toca do breu e receber a margarida eu poderia te contar que sonhei com você e que chorei quando Nástienka foi embora, pensei que você poderia ir embora e eu não te perdoaria. E doeu.
- Hmmm
- Você viria?
- Não.
- Não? Mas, mas, a margarida?
- Eu fui embora. Você não me perdoaria.
A pedra atravessou a janela, a margarida caiu desfolhada e ele atravessou a rua.
Decidiu que amor era bicho macabro, mudou de vida.
Era uma segunda-feira.
Decidiu que amor era bicho macabro, mudou de vida.
Era uma segunda-feira.
- Droga.
(Jessiely Soares)
* Noites Brancas é uma obra do escritor Fiódor Dostoiévski. O livro que mais aproxima Dostoiévski do romantismo, foi escrito em 1848, antes de sua prisão.
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Meu texto está todo baseado nesse conto lindo, lindo, lindo! Não sei se ficou claro. Pra mim, ficou, mas eu tentei passar da melhor forma