domingo, 15 de fevereiro de 2009

Infantista

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Não sei.
Hoje amanheceu de Sol, uma grama se insinuou para mim e fui ter com ela.
Sentei, sorrateira, e um grama de saudade me escorreu por entre as pálpebras semi-cerradas.

Me senti amarga.

Não sei, sabe, era alguma coisa que o vento marginal trazia. Um cheiro de fazenda.
Ali, sentada, via as crianças que passavam para a escola de boina quadriculada. O dia quente, crescendo, e eu ali.

Um mundo de formigas veio passear nas minhas sandálias e eu não fiz nada para expulsa-las do meu território.

O mundo era delas, as sandálias, minhas. Elas ficaram de invasoras do meu mundo.

O banquinho mais alto da pracinha inglesa carregava umas marcas feitas a giz, desejei ser Renato Russo, desejei ser pequena, desejei ser minha avó. E ter todas aquelas marcas de tempo.

E aquelas conversas engraçadas que ela tem, quanda fala, fala, fala sobre pessoas que não conheço e não olha direto pra mim...

Eu lembrei de todos os dias naquela casa velha e imensa, das histórias para dormir e de todos os cafés com leite condensado que ela me preparava.
Às vezes eu pedia canela, ela às vezes colocava.

Lembrei do chão. Sabe terra? Areia? pedra? Além da tarde e do parque que estavam, ambos, secularmente, plantados no jardim.

Eu corria a tarde toda (mainha se ia ao trabalho) e vivia, inigualavelmente, toda a confiança que minha avó me destinava.

- "Essa menina é uma peste ", dizia minha tia. (E, sim, eu o era!)
- "Não. Ela é uma menina boa e linda... Olhe os olhinhos verdes e os cabelinhos cacheadinhos dela!" - redarguia minha Amélia.

E eu sentia, além daquele xale xadrez, um peso profundo de amor nos seus ombros.
Sentava então meus olhos em seu colo.

As traquinagens estavam encerradas.

Cinderela me seria companheira. Ela e todas as carruagens e cafés que minha avó inventava, como só ela poderia fazer...

Acordei como de um sonho. Entardeceu em minutos... O dia cantou com voz de cigarra que eu precisava voltar para minha casa.

As formigas acabaram adentrando minhas lembranças.

Eu fiquei doce outra vez.

(Jessiely Soares)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sobre o amor e outros Mundos.

(Dogmas, certezas e a educação que herdei de minha mãe )


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“...Vai pelo caminho da esquerda, boy,
que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha."
(Caio F.)




Fui educada para o amor de um jeito errado.

Quando pequena me tilintavam textos. Minha mãe me dizia bons conselhos, desses passados de ancestrais a ancestrais, até alcançar a mediocridade na qual, até antes desse encontro, me encontrava.

Fui, placidamente, educada para o amor dos outros.

Meus doces desvarios, taxados de comportamento errado, eram-me arrancados no calor da brasa.

E os pequenos avivamentos, olhares e sonhos, ficavam intraduzíveis.
Eu fui educada, dogmada, domesticada... Cultuada para o amor.

Amor.

Hoje eu percebo que ele se assentou. Sem muita cerimônia. Bruto.
Ouro que não entreguei.

O amor não é o que me disseram. Ele não é algo simples, sem egoísmo. O amor é cachorro, no sentido violento.

E o que mais me seduz, nesse encanto, é esse gosto de pecado que ele deixa em mim.

Posso contar-lhes dele, sobre ele, sobre os seus anseios, mas, ora... não preciso que me olhem de soslaio. Apenas digo-lhes que ele se assentou, feito pedacinhos de poeira na água límpida.

Se eu contar muito dele, vocês o misturam e ele volta a turvar-se.

Prefiro-o assim, desmistificado, segredoso, quente. Sem boa educação e sem limites de ética.

Sem dogmas, sem Neruda.

O amor é um avivamento dos sentidos. O florescimento do caminho de esquerda.


(Jessiely Soares)