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Me senti amarga.
Não sei, sabe, era alguma coisa que o vento marginal trazia. Um cheiro de fazenda.
Um mundo de formigas veio passear nas minhas sandálias e eu não fiz nada para expulsa-las do meu território.
O mundo era delas, as sandálias, minhas. Elas ficaram de invasoras do meu mundo.
O banquinho mais alto da pracinha inglesa carregava umas marcas feitas a giz, desejei ser Renato Russo, desejei ser pequena, desejei ser minha avó. E ter todas aquelas marcas de tempo.
E aquelas conversas engraçadas que ela tem, quanda fala, fala, fala sobre pessoas que não conheço e não olha direto pra mim...
Eu lembrei de todos os dias naquela casa velha e imensa, das histórias para dormir e de todos os cafés com leite condensado que ela me preparava.
Lembrei do chão. Sabe terra? Areia? pedra? Além da tarde e do parque que estavam, ambos, secularmente, plantados no jardim.
Eu corria a tarde toda (mainha se ia ao trabalho) e vivia, inigualavelmente, toda a confiança que minha avó me destinava.
- "Essa menina é uma peste ", dizia minha tia. (E, sim, eu o era!)
E eu sentia, além daquele xale xadrez, um peso profundo de amor nos seus ombros.
As traquinagens estavam encerradas.
Cinderela me seria companheira. Ela e todas as carruagens e cafés que minha avó inventava, como só ela poderia fazer...
Acordei como de um sonho. Entardeceu em minutos... O dia cantou com voz de cigarra que eu precisava voltar para minha casa.
As formigas acabaram adentrando minhas lembranças.
Eu fiquei doce outra vez.
(Jessiely Soares)
Não sei.
Hoje amanheceu de Sol, uma grama se insinuou para mim e fui ter com ela.
Sentei, sorrateira, e um grama de saudade me escorreu por entre as pálpebras semi-cerradas.
Me senti amarga.
Não sei, sabe, era alguma coisa que o vento marginal trazia. Um cheiro de fazenda.
Ali, sentada, via as crianças que passavam para a escola de boina quadriculada. O dia quente, crescendo, e eu ali.
Um mundo de formigas veio passear nas minhas sandálias e eu não fiz nada para expulsa-las do meu território.
O mundo era delas, as sandálias, minhas. Elas ficaram de invasoras do meu mundo.
O banquinho mais alto da pracinha inglesa carregava umas marcas feitas a giz, desejei ser Renato Russo, desejei ser pequena, desejei ser minha avó. E ter todas aquelas marcas de tempo.
E aquelas conversas engraçadas que ela tem, quanda fala, fala, fala sobre pessoas que não conheço e não olha direto pra mim...
Eu lembrei de todos os dias naquela casa velha e imensa, das histórias para dormir e de todos os cafés com leite condensado que ela me preparava.
Às vezes eu pedia canela, ela às vezes colocava.
Lembrei do chão. Sabe terra? Areia? pedra? Além da tarde e do parque que estavam, ambos, secularmente, plantados no jardim.
Eu corria a tarde toda (mainha se ia ao trabalho) e vivia, inigualavelmente, toda a confiança que minha avó me destinava.
- "Essa menina é uma peste ", dizia minha tia. (E, sim, eu o era!)
- "Não. Ela é uma menina boa e linda... Olhe os olhinhos verdes e os cabelinhos cacheadinhos dela!" - redarguia minha Amélia.
E eu sentia, além daquele xale xadrez, um peso profundo de amor nos seus ombros.
Sentava então meus olhos em seu colo.
As traquinagens estavam encerradas.
Cinderela me seria companheira. Ela e todas as carruagens e cafés que minha avó inventava, como só ela poderia fazer...
Acordei como de um sonho. Entardeceu em minutos... O dia cantou com voz de cigarra que eu precisava voltar para minha casa.
As formigas acabaram adentrando minhas lembranças.
Eu fiquei doce outra vez.
(Jessiely Soares)