Hoje a casa inteira ficou vazia.
Sem nenhum ruído, pude ouvir os passos de ratos no telhado, pude ouvir o miado em telhados alheios em busca dos ratos que estavam no meu telhado.
E eu rezei, rezei muito, para que os gatos encontrassem os ratos em cima do meu telhado e fizessem estardalhaço. Eu queria muito barulho, muito, a qualquer custo.
Mas eles não vieram.
Também choveu hoje, e agora, 16h29min, o flamboyant está lavado, assim como a grama, assim como os prédios, assim como tudo.
Então, o silêncio volta com cheiro de chuva e uma arquitetura provençal de dores medievais.
Tudo que é calmo me angustia.
Se essa dor não viesse tão alta eu poderia ouvir a panela em que fervem o leite e o açúcar, para um doce que ninguém virá provar.
Se essa dor não urrasse aqui dentro, eu cogitaria sair até pracinha, sorrir de novos ares.
Se eu não me sentisse tão só, eu poderia fazer companhia à minha filha.
Mas essa voz aqui, gritando socorro, não me dá paz.
Desde que ela chegou nunca mais ouvi nada. Tudo é em vão. Eu aumento o volume da música, até aonde consigo suportar e de nenhuma maneira ela me ameniza.
Tudo, todas as tentativas, não calam esse medo de estar pra sempre assim e trabalhar não resolve mais nada.
Hoje eu completo um ciclo de desventuras com esse sentimento desconcertante.
Vou guardar essa memória na gaveta, para tentar tê-la outra vez se acaso eu sobreviver a ela.
( Jessiely Soares )
Som alto nunca abafa a voz dentro da gente, acredite em mim, eu sei do que falo.
ResponderExcluirTenta gritar, gritar mais alto que ela. Às vezes funciona.