Vida sofrida.
De balaio na mão, enquanto os quatro filhos ainda dormem, Maria espalha na mesa o que tem pra se comer: Umas bolachas e um café requentado, servido na caneca de alumínio. Ruim, porque queima a boca. E um pouco de farinha de mandioca.
O marido, enquanto se veste, observa-a. Como está velha. Senta calado, para não desperdiçar nada, nem palavras. Apenas pega a caneca, engole o líquido quente... Não come as bolachas, as deixa para as crias.
Desce a serra. Enxadeco nas costas, a velha cachorra aos pés, enroscando-se, pulando, brincando com algo invisível e que o irrita. Tudo irrita. Na verdade, tudo dói.
Dói ver a esposa, que era tão bonitinha, mesmo sendo ainda jovem ter uma aparência triste.
Dói ver os quatro filhos, de barriga inchada, sonhando com coisas inimagináveis, que eles nem sabem que sonham, na verdade nunca viram nada pra sonhar.
“Menos mal”, pensou. “ Pobre ficar rico é bom, rico ficar pobre é que é triste."
Do meio da ladeira pode-se ver a plantação. O terreno árido revela elevações, pequenas covas que carregam a esperança de uma safra boa, mesmo com estas esperanças perdidas na pedra de sal. Mas ele é teimoso. Mal de Sertanejo, morre, mas morre achando que amanhã melhora.
E a chuva não pinga. O verde não chega. E ele reza. Não agüenta mais os olhos castanhos do caçula que pedem peito a mãe, já que o leite da cabra está escasso. São quatro bocas, quatro.
E ele reza, olha os olhos de Maria, que de verdes ficaram vermelhos... De Sol e de lágrimas, e isso magoa. Abre no peito uma cova maior que a do plantio.
E Maria ora. Orou até o dia em que os Anjos a levaram pelas mãos, logo depois de levarem o caçula que morreu perguntando se no Céu tinha pão.
Dizem que ela morreu de tristeza, não se sabe.
Foi a primeira vez em anos, que o verde tocou aquele o solo.
E as lágrimas que o sertanejo verteu não fizeram nascer uma flor. Nenhuma. Onde não havia nem folha triste de raiz de feijão.
O verde rasgou o peito. O chão, não.
(Jessiely)
De balaio na mão, enquanto os quatro filhos ainda dormem, Maria espalha na mesa o que tem pra se comer: Umas bolachas e um café requentado, servido na caneca de alumínio. Ruim, porque queima a boca. E um pouco de farinha de mandioca.
O marido, enquanto se veste, observa-a. Como está velha. Senta calado, para não desperdiçar nada, nem palavras. Apenas pega a caneca, engole o líquido quente... Não come as bolachas, as deixa para as crias.
Desce a serra. Enxadeco nas costas, a velha cachorra aos pés, enroscando-se, pulando, brincando com algo invisível e que o irrita. Tudo irrita. Na verdade, tudo dói.
Dói ver a esposa, que era tão bonitinha, mesmo sendo ainda jovem ter uma aparência triste.
Dói ver os quatro filhos, de barriga inchada, sonhando com coisas inimagináveis, que eles nem sabem que sonham, na verdade nunca viram nada pra sonhar.
“Menos mal”, pensou. “ Pobre ficar rico é bom, rico ficar pobre é que é triste."
Do meio da ladeira pode-se ver a plantação. O terreno árido revela elevações, pequenas covas que carregam a esperança de uma safra boa, mesmo com estas esperanças perdidas na pedra de sal. Mas ele é teimoso. Mal de Sertanejo, morre, mas morre achando que amanhã melhora.
E a chuva não pinga. O verde não chega. E ele reza. Não agüenta mais os olhos castanhos do caçula que pedem peito a mãe, já que o leite da cabra está escasso. São quatro bocas, quatro.
E ele reza, olha os olhos de Maria, que de verdes ficaram vermelhos... De Sol e de lágrimas, e isso magoa. Abre no peito uma cova maior que a do plantio.
E Maria ora. Orou até o dia em que os Anjos a levaram pelas mãos, logo depois de levarem o caçula que morreu perguntando se no Céu tinha pão.
Dizem que ela morreu de tristeza, não se sabe.
Foi a primeira vez em anos, que o verde tocou aquele o solo.
E as lágrimas que o sertanejo verteu não fizeram nascer uma flor. Nenhuma. Onde não havia nem folha triste de raiz de feijão.
O verde rasgou o peito. O chão, não.
(Jessiely)