Adormeciam aliciados pelo velho costume do rádio ligado do lado da cama. Que também seriam saudades, da terra amada mas deixada pelo pai, que há tanto havia se acostumado a serras e frio.
Pedaços de vida espalhados pela casa.
O campo sorria-lhes, as praças, os bancos, as fotografias e os brinquedos. O circo armado com lençóis, as histórias nas noites de chuva, e o beijo deixado na cama antes de caírem nos braços dos sonhos.
E os poemas.
No quarto, depois do sono, depois da vida, depois do jantar, depois do curso. Eram acalentados pela voz e pela poesia, como se nada mais lhes preenchessem as artérias. Dessas noites, azuis, restariam fotografias em preto e branco e algumas histórias.
Nas manhãs de carnaval eram, os filhos, coloridos pelos velhos vestidos da mãe, forrados de cetim e pintados de palhacinho e bailarina.
Nas madrugadas, eram calor sob o lençol, abraço ternos de aconchego e de carinho. Eram pais e filhos. Pelo resto de seus caminhos.
Enquanto o cheiro do café se espalhava pela casa e pela rua, e os pães, assavam num misto de ventura e vida, as manhãs tomavam forma. Os vinhos envelheciam na adega a espera das formaturas, dos aniversários, das angústias e dos netos que nasciam, nasciam, e cresciam cantando hinos à imensidão e às verdades, como gemas raras que se pronunciam no peito.
E, nas mutáveis manhãs de inverno, a cerração cobria a serra. A vida, não.
O eterno ainda fumegava nos empoeirados móveis antigos da sala de jantar, no vazio dos corredores e nas velhas histórias, com os netos no colo.
(Jessiely Soares)
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