quinta-feira, 29 de maio de 2008

Reencontro




Vicejava o jardim
Feita de pedra e conhecida por ser mal assombrada, erguia-se imponente a casa da esquina.
Nove cômodos, sem incluir o oitão. A moradia abrigava grandes janelas em arco donde pendiam velhas cortinas gastas e descoradas.
Na parede do muro, imperavam samambaias e outras trepadeiras.
Ostentava, debaixo da Figueira, dois bancos iguais de toras, sobre o chão, colorido de folhas secas e forrado de grama baixa, sorriam pequenas flores feias.
E foi assim, num dia de Sol à meio céu, em que ela se reaproximou da casa. Coração pulava na palma da mão, por não ter moradia no peito.
Sentiu de novo o cheiro de canela e de madeira. Viu a antiga cor das pitangas, na única pitangueira sobrevivente, e o suave balançar dos lençóis nos varais.
Caminhou em passos firmes por toda a casa, mesmo sem ser convidada a entrar, mas, agora, não havia mais a cristaleira com as fotos da família. Nem a louça inglesa.
E quem seriam aqueles meninos? Não recordava de tê-los conhecido.
Só um cantinho guardava pequenas memórias. Viu então sua cama, sua penteadeira, seus dois livros de Machado de Assis e o retrato de sua avó, sorrindo um sorriso de xale.
E por um momento nem parecia que era noite em seu destino, nem parecia que tinha partido sem razão, nem parecia que não tinha deixado saudades.
Por um momento breve nem parecia que tinha morrido.
(Jessiely Soares)

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